Ao final do filme “O Advogado do Diabo”, Satanás (interpretado por Al Pacino) diz uma frase emblemática: “Vaidade: definitivamente meu pecado favorito”. Por trás dessa ficção há uma grande verdade bíblica: a vaidade é um enorme perigo para nossas vidas espirituais . Segundo o dicionário, vaidade é o “sentimento de grande valorização que alguém tem em relação a si próprio”, ou, em outras palavras, é quando você glorifica a si mesmo. Só que biblicamente não temos glória em nós, a ponto de Paulo dizer em 1 Co 1.31 e 2 Co 10.17: “Quem se gloriar, glorie-se no Senhor“. Somos pó e ao final da vida nosa carcaça será comida por vermes. Além disso, todo dom que temos vem de Deus, todo talento que temos vem de Deus, toda boa dádiva vem de Deus. Então, TUDO o que temos de elogioso não é mérito meu ou seu: é mérito de Deus. Nós apenas administramos aquilo que o Senhor nos doa. É como quando alguém elogia uma roupa que estamos usando. Mas…quem idealizou, desenhou e costurou a roupa foi o estilista, tudo o que nós fizemos foi comprá-la. Então eu acho muito engraçado quando alguém chega para outra e diz “que roupa linda” e o mero usuário responde todo bobo: “Obrigado”. Só que…obrigado por quê? Todo o mérito está em quem FEZ a roupa, a ela a honra. Você? Você só a comprou.
Pois bem, sou Diretor Editorial da Anno Domini, a editora de livros da Igreja Cristã Nova Vida, e isso me torna responsável por cada livro que publicamos (ou seja, espero que isso não aconteça, mas se um dia lançarmos um livro horrível, pode me culpar, ecce homo). Ocorre que em 18 de novembro foi a entrega do Prêmio Areté, promovido desde 1991 pela Associação das Editoras Cristãs do Brasil (ASEC) para galardoar os melhores do ano no mercado editorial. E a Anno Domini, com menos de dois anos de existência, foi a recordista em prêmios: ganhamos 7, enquanto algumas editoras com décadas de experiência ganharam apenas 3 ou 4. Uau! Motivo de vaidade ou não? Segundo nos confidenciou o editor chefe de uma grande editora, “este é um fato inédito na história do Prêmio Areté”. Uau! Motivo de vaidade ou não? E não para por aí: entre os troféus recebidos dois vieram diretamente para mim: “Autor Revelação” e “Melhor Livro de Ficção/Romance”, ambos por um dos 3 livros que eu escrevi, “O ENIGMA DA BIBLIA DE GUTEMBERG“. Uau! Motivo de vaidade ou não?
Além desses dois, recebemos os troféus de “Livro do Ano” e “Vida Cristã” (“O FIM DE UMA ERA“), “Autor Nacional” (Walter McAlister, por “O FIM DE UMA ERA”), “Meditação/Inspiração” (“O PAI NOSSO“) e “Livro Infantil” (“AS AVENTURAS DE MARIANA“). Detalhe: eu fui o editor de todos esses livros. Uau! Motivo de vaidade ou não? E, em “O FIM DE UMA ERA”, que é escrito como uma entrevista no formato de perguntas e respostas, eu fui o entrevistador do Bispo Walter e tembém o preparador do texto. Uau! Motivo de vaidade ou não?
Agora…reparou quantas vezes nestes últimos parágrafos usei a palavra EU? Faz-me desconfiar que estou me pondo no centro de muita coisa. “Ah, Zágari, o que é que tem, a Anno Domini ganhou 7 prêmios! Se-te!!! U-huuuuu”. Pois é, os 7 Prêmios Areté tinham tudo para inflar até estourar meu peito de tanta vaidade. Motivos razoáveis do ponto de vista humano para isso eu tinha.
Só que tem um pequeno detalhe: no Reino dos Céus as coisas não funcionam nem de longe do ponto de vista humano. Assim que acabou a cerimônia de entrega dos troféus e a euforia do momento, o Espírito Santo falou ao meu coração. Eu não ouço sobrenaturalmente a voz de Deus, como alguns dizem escutar, mas como busco viver em intimidade com meu Bom Pastor, acredito que sei reconhecer razoavelmente bem a Sua voz quando reverbera em meu coração. E o que queimava em mim não era vaidade. Era uma voz interior que parecia dizer: “Guarda-te da vaidade! Fuja desse câncer! Mate esse lobo que uiva em teu peito! Não deixe a semente podre da vaidade germinar no teu coração, pois TODOS os teus méritos são resultado da graça de Deus. TO-DOS!”.
Foi quando me lembrei do nada de uma pregação que ouvira cerca de 20 anos antes, quando o Pastor Eduardo Rosa Pedreira pregou sobre vaidade em cima de Eclesiastes 1.2 (“Vaidade de vaidades, diz o pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade“). Recordei, assim, num momento que não tinha nada a ver, daquele sermão. E nele o Pastor havia explicado que a palavra no hebraico para “vaidade” naquele idioma é a mesma que significa “bolha de sabão”. Ou seja: vaidade é um sentimento tão firme, sólido, com conteúdo e importância como uma reles bolhinha de sabão.
Quando essa lembrança invadiu minha memória, meus pés se fincaram no chão e percebi que todos os meus “eu” e todos os meus “uau” eram… bolha de sabão. Não vou negar, os inesperados 7 prêmios por alguns minutos me encheram de um inesperada e boba euforia humana. Mas a lembrança daquela pregação de 20 anos antes me deu um tapa na cara e disse-me: “Mauricio, recomponha-se”. Foi quando lembrei de onde Deus me tirou. Voltou à minha boca o gosto das bolotas dos porcos. E recordei que do pó fui formado e ao pó retornarei. Que nu saí do ventre de minha mãe e nu retornarei. Deus me fez lembrar de quem eu sou. De que o vaso não tem mérito em si, quem o esculpe é o oleiro. E então percebi claramente que fugir da vaidade é um gesto de cuidado com a nossa alma.
Você que me lê certamente é muito bom em alguma coisa. Talvez seja um excelente pregador. Talvez um músico virtuoso. Pode ser que só tire 10 na escola. Sua inteligência de repente supera a média. Às vezes o que te destaca é sua beleza física e onde chegue atraia todos os olhares. Ou então é alguém muito carismático. Você pode ser um grande profissional. Ou entender de tecnologia como ninguém. Ou ainda há grandes chances de você sacar à beça de teologia, de Biblia. Você fala sobre as coisas de Deus e ganha admiradores fieis, gente que baba pela sua aparente santidade e/ou vida com Deus. Quem sabe você tem tantos followers no twitter ou amigos no Facebook que lá no fundinho inconfessavelmente se acha melhor do que os outros. Enfim, certamente você é muito bom em alguma coisa que te destaca.
Nesse caso, só não se esqueça de uma coisa: entre o seu “eu” e seu “uau” o que existe… é só bolha de sabão.
Sim, recebemos 7 Prêmios Areté. Bacana. Que esses livros que suamos para publicar venham a edificar muitas vidas, pois cada um deles foi escrito, arduamente trabalhado, publicado e lançado exatamente com essa intenção. Mas jamais podemos perder de vista o prêmio que realmente importa. Tá, Zágari, mas, afinal, se o Areté não é o prêmio que importa… qual prêmio então importa? A resposta está explícita em Filipenses 3.10-14: “Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo pelo PRÊMIO da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus“.
E para esse prêmio, meu irmão, minha irmã, não há mérito humano, não há vaidade, não há vanglória. Há somente graça. A graça do Cordeiro de Deus. A maravilhosa graça de Jesus Cristo, o homem mais sem vaidade que já pisou sobre a Terra.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Mauricio Zagari.
Mauricio Zagari.
Nenhum comentário:
Postar um comentário