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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Tsedaká...

Existe dentro da tradição judaica um conceito que considero um dos mais lindos que existem nas relações humanas: o da Tsedaká. Por vezes é traduzido como “caridade”, mas a raiz da palavra é, do hebraico, Tsedek, ou “justiça”, o que é mais forte do que fazer uma simples caridade. O preceito ordena fazer caridade no sentido de “cumprir a justiça”. Apesar de ser um conceito da tradição judaica, tem muito a nos ensinar. Esse preceito é uma ordem aos judeus a darem Tsedaká, ou seja, a sustentar os necessitados e a aliviar suas cargas. A origem do Tsedaká vem da Torá hebraica, o equivalente ao pentateuco cristão, como no texto que diz “Abrirás tua mão para teu irmão, para teu pobre” (Deuteronômio 15:11). Segundo o rabino Kalman Packouz, o significado é que devemos ajudar os nossos pobres e sustentá-los de acordo com suas necessidades. As normas desse preceito estão explicadas em vários lugares,  inclusive no Talmud, e determinam que mesmo o homem pobre que vive de Tsedaká tem a obrigação de dar Tsedaká, ainda que mínima, a alguém que seja mais pobre do que ele ou tão pobre como ele próprio.
O que me encanta no Tsedaká é seu principio: da mesma forma que Deus cuida de nós, devemos nos esforçar para ajudar o restante da humanidade.
Gosto muito do primeiro parágrafo da oração ‘Shemá Israel’, onde está escrito: “Você deve amar seu Deus com todo seu coração, toda sua alma e todas suas posses”. Os sábios do Talmud perguntam: “Por que está escrito ‘Todas suas posses’? A resposta é que para algumas pessoas é mais difícil separar-se de seu dinheiro que se separar da própria vida”.
No livro “Para Curar Um Mundo Fraturado – A Ética da Responsabilidade”, o Rabino Jonathan Sacks afirma que a ética da Tsedaká calibrada à perfeição vem embebida num insight psicológico, uma vez que o iimportante não seria o quanto você dá, mas como você dá. Isso incluiria o anonimato como essencial à dignidade, além do que nunca devemos constranger os pobres. Aos ricos, não é permitido se sentirem superiores. E nós não damos para ter orgulho de nossa generosidade. Reza a tradição judaica que a Tsedaká deve ser dada com prazer e com um semblante agradável. Que se um pobre lhe pedir dinheiro e você não tiver condições de ajudá-lo no momento, não levante a voz ou aja desagradavelmente. Solidarize-se com ele e, calmamente,  expresse que gostaria de ajudá-lo, mas que no instante não tem como fazê-lo.
Segundo o livro “Love your Neighbour”, do Rabino Zelig Pliskin, a recompensa por praticar a Tsedaká é enorme. No feriado judaico do Yom Kipur os judeus recitam que “três coisas revogam um mau decreto dos Céus”: Teshuvá(retornar ao caminho da Torá), Tefilá (orações) e Tsedaká (atos de justiça, de correção). Mas, de todas essas coisas, o que me soa mais bonito de tudo é que ajudamos porque somos parte de um pacto de solidariedade humana, e porque é o que Deus quer de nós, antes de tudo em honra à confiança em nome da qual Ele temporariamente nos emprestou riqueza.
E eu com isso?
Aí você pode estar se perguntando: “Tá legal, Zágari, tudo isso é muito bonito, mas eu não sou judeu, sou cristão, o que eu tenho a ver com isso?”. Eu diria que tudo.
Chega a ser um clichê quando alguém se refere à comunidade judaica que se diga que é raríssimo ver um judeu desempregado, passando por necessidades ou desamparado. Tive uma conversa com uma judia e ela me explicou que isso deve-se ao conceito do Tsedaká: graças a esse princípio, que é muito levado a sério, nunca um judeu vai desamparar outro: se um israelita estiver em dificuldades financeiras, logo a comunidade se mobiliza para conseguir-lhe um emprego ou auxiliá-lo de algum modo que o tire do aperto.
Eu parei então para pensar no que nós, cristãos  fazemos quando vemos outro cristão necessitado. Sim, nós, que temos como parte do primeiro mandamento “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Na maioria esmagadora das vezes em que algum cristão em apuros se aproxima passando dificuldades nossa reação não é abrir a carteira, mas pôr a mão em seu ombro e dizer: “Vou orar por você”. Se você for muito espiritual, diz “vamos orar”, senta ao lado dele, ora junto e pede a Deus que abra as janelas do Céu – mas ainda assim não abre a carteira. Se um cristão pobre vem pedir dinheiro no sinal de trânsito, nós nos rejubilamos em, rapidinho, fechar a janela do carro.
Nosso conceito de amor ao próximo tem sido completamente esquecido. Basta passear pelas ruas das metrópoles e você verá legiões de pedintes, gente querendo um prato de comida. E os cristãos aqui estão tão atrasados para ir ao culto louvar a Deus com as mãos levantadas que não têm tempo de parar, estender a mão e comprar um prato feito que seja pros famintos que nos cercam. Não estou falando dos mendigos profissionais, mas daqueles que realmente precisam.
A título de reflexão, vou lhe fazer algumas perguntas objetivas. E você, que é crente em Jesus Cristo, que vai à igreja todo domingo, responda a si mesmo:
- Qual foi a última vez que você desviou-se de seus afazeres para dar alimento a um faminto?
- Quando você doou pela última vez dinheiro a uma instituição de caridade?
- Há quanto tempo você não tira um tempo para ouvir uma pessoa aflita ou desesperada?
- Qual foi a última vez que você visitou um orfanato ou um asilo?
- Quem de fora da sua família você ajuda financeiramente com um sustento regular?
- Quantas crianças carentes você já apadrinhou pela Visão Mundial?
- Quanto da sua renda você doa por mês para ajudar a sustentar um missionário?
Em contrapartida, responda agora o seguinte:
- Quantas vezes este mês você gastou dinheiro comendo ou lanchando fora de casa?
- Quantas roupas ou sapatos novos você comprou para si nos últimos 60 dias?
- Quanto dinheiro você destinou no ultimo mês para ir ao cinema, ao teatro ou para alugar DVDs?
- Quanto você paga por mês pela sua TV por assinatura?
- Se você é mulher, quanto você gastou no ultimo mês com salão de beleza?
- Quanto dinheiro você gastou este ano com bobagens como capinhas de celular ou outros badulaques do gênero?
Quando eu fiz para mim mesmo essas perguntas tive tanta vergonha de mim que quase me converti ao judaísmo, só para praticar o Tsedaká. Só desisti porque me lembrei que teria de me circuncidar. Então cheguei à conclusão que seria menos doloroso apenas começar a praticar o que Jesus nos ensinou.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Mauricio Zagari.

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