MENUS

sábado, 7 de maio de 2011

A MÃE DO SALVADOR



"Junto à cruz de Jesus estava a sua mãe, a irmã dela, e

Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Vendo Jesus ali a

sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente,

disse a sua mãe: Mulher, eis o teu filho. Depois disse ao

discípulo: Eis a tua mãe. Dessa hora em diante, o discípulo

a recebeu em sua casa". João 19:25-27.



Enquanto Maria olha para a cruz, tolda-se a terra de um

nevoeiro, como se tivesse sido atingida bem em seu âmago por

uma espada. Enquanto observa, Maria percebe a semelhança

entre o que ela sente com o que foi profetizado por Simeão,

por ocasião do nascimento de Jesus: "Esta criança é posta

para queda e elevação de muitos em Israel, para ser alvo de

contradição, e para que se manifestem os pensamentos de

muitos corações. E uma espada trespassará também a sua

alma".



Focalizando novamente a cruz, tudo fica nítido para ela:

-Então, esta é a espada.



É algo que toda a mãe teme: perder um filho. Este medo a

perseguiu sempre, desde as palavras premonitórias de Simeão.

Houve o terror por ocasião de Herodes, com a conspiração de

assassinato das criancinhas. E ainda a profecia de Isaías

sobre o Servo Sofredor sempre a perturbou. É como se a Morte

tivesse pousado sobre o berço de Jesus, desde o seu

nascimento, lançando ali uma sombra escura como uma

constante advertência de que um dia o menino lhe

pertenceria.



Bem no seu íntimo, Maria sabia que Jesus era uma criança

nascida para morrer. Não cresceria para ser um médico, ou um

rabi, ou um doutor da lei. Não se casaria, nem lhe daria

netos que levassem adiante o nome de família. Sabia disto há

muito tempo, mas havia enterrado esse sentimento em seu

coração.



Nas poças de lágrimas nadam algumas recordações. O

nascimento dele naquele frio e escuro estábulo em Belém.

Como ele tremia, quando pegou-o pela primeira vez em seus

braços, tão pequenino e indefeso. Aquecera-o em seu seio e

cantara para que dormisse. Lembrava-se também de como,

quando beijara sua testa, ele a olhara tão calmo, tão sem

cuidados.



Novamente focaliza a cruz e vê homens encurvados, repartindo

as roupas dele, e lançando sortes sobre elas. Ergue os olhos

para seu filho e sofre. Ele está nu, e não há ninguém para

aquecê-lo. Tem sede, e não há ninguém para molhar os seus

lábios. Está cansado e não há ninguém para cantar-lhe uma

canção para que adormeça. Sua testa está franzida em agonia,

e não há ninguém para enxugar-lhe os ferimentos.



-Por que meu bebê mereceria isto?



Novamente seus olhos se turvam. Mais uma lembrança vem à

tona. E mais outra. Lembra-se de quando disse a primeira

palavra. Lembra-se dos seus primeiros passos. Recorda-se de

como ele gostava de ajudá-la a assar o pão, e ela então

costumava molhar um pedaço do pão fresco no mel e dava-lhe

para comer. Isto deixava-o contente e fazia com que seus

olhos brilhassem.



-Por que meu bebê mereceria isto?



Recorda-se dele com doze anos, quando já estava a serviço do

Pai em Jerusalém. Lembra-se claramente de ter pensado na

ocasião: Ele não é mais o meu bebê. Está ali na cruz agora

por possuir também amor materno. Está ali porque tem o amor

de um Salvador. Mas, o amor não se parece com o que vê.

Gotas de sangue que escorrem pelo madeiro, molhando a

sujeira que está embaixo. Cravos pesados nos pés de Jesus.

Costelas marcando a pele magra. Moscas pousando nas feridas

abertas. Olhos inchados pela febre. Cabelos emaranhados na

coroa de espinhos colocada pela manhã. Mãos erguidas a Deus

presas no madeiro. Um dorso encurvado, pendente pelos punhos

empalados, como um grotesco pingente. Isto é o que a mãe de

Jesus vê, enquanto desembainha seu coração para o golpe

cruel da espada romana. É mais do que uma mãe pode suportar.

Mas de alguma forma ela resiste. Principalmente por causa do

homem que está a seu lado, amparando-a.



João, o discípulo amado de Jesus. De braços dados, as duas

pessoas a quem Jesus mais ama neste mundo. Nunca foram tão

próximos, como neste momento. Ouvem Jesus murmurar enquanto

ergue a cabeça. Esboça o seu adeus com a língua ferida e os

lábios rachados. João leva Maria para mais perto, para

poupar a Jesus o esforço, pois o seu filho tem muito que

dizer a ela: Obrigado por tudo. . . devo-lhe tanto. . . você

foi a mãe mais querida que alguém poderia ter. Mas os

espasmos no peito estão cada vez mais freqüentes, e aquelas

palavras não foram pronunciadas. Jesus apóia-se nos cravos e

com esforço enche os pulmões. A dor é extrema. As palavras

saem com um grande esforço. "Mulher, eis o teu filho." Maria

olha para João, aperta os seus braços enquanto tem os olhos

marejados de lágrimas. Os lábios esboçam um sorriso

trêmulo". "João, eis a tua mãe".



O discípulo acena enquanto morde os lábios controlando a

emoção. Foi tudo quanto foi dito. Por um momento íntimo,

contemplam aquele a quem tanto amam. Então Jesus pende

novamente.



De repente, Maria percebe, ele está a serviÇo do Pai. Ora

àquele Pai, para que a morte venha logo para o seu filho,

isto é, para o filho deles. Pois ambos perderam um filho

hoje. Ambos têm uma espada cravada no peito. E assim, apesar

da sua dor, apesar do aço frio que lhe trespassa a alma, ela

resiste ao pé da cruz. Não suporta olhar. Mas não suportaria

afastar-se dali também. Está ali. Pelo seu filho. Como

qualquer mãe o faria.



Ela estava lá quando ele veio ao mundo. Haveria de estar

quando ele se fosse. Estava lá quando ele foi empurrado por

um canal escuro e estreito até seus braços, quando nasceu.

Estaria presente agora quando ele estava sendo empurrado

através de outra passagem dolorosa que o devolvia para os

braços do Pai.



Oração: Tu, cujo corpo pendia daqueles cravos em tuas mãos,

e que carregavas sobre ti o peso do pecado do mundo, e ainda

assim preocupavas-te mais com as dores dos outros do que com

as tuas. Tu, que fizeste um comentário constrangedor sobre o

único dos mandamentos que contém uma promessa, embora

soubesses que para ti aquela promessa te seria negada. Tu,

que de tudo foste destituído, e no entanto ainda achaste

tanto para dar: aos seus executores, o perdão: ao ladrão, o

paraíso; à sua mãe, um filho. Concede-me a graça, Ó Senhor,

de jamais esquecer a maneira como tu te alçaste acima do teu

desamparo a fim de te assegurares de que tua mãe não seria

desamparada. Grande exemplo de amor altruísta. Filho

exemplar. Conserva-me sempre junto à cruz, pois ela é a

fonte de onde provém o amor mais puro. Lá sou purificado,

não somente dos meus pecados, mas da minha pequenez. É nela

que estou mais perto de ti. É nela que estou mais próximo

daqueles que te amam. Leva-me lá todos os dias, Senhor. É

onde está o amor. E é onde eu preciso ficar. .



By Simone Sillos

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